Como a pandemia tem afetado os mochileiros
A “Com A Perna no Mundo” conversou com mochileiros e hostels para entender como os viajantes têm assimilado a pandemia da COVID19 e as perspectivas para o futuro
A “Com A Perna no Mundo” conversou com mochileiros e hostels para entender como os viajantes têm assimilado a pandemia da COVID19 e as perspectivas para o futuro
O mundo mudou em 2020. Desde que o Sars-COV-2 ultrapassou as fronteiras da China, muitas outras foram fechadas. De acordo com o mapa da Universidade John Hopinks, dos Estados Unidos, o novo coronavírus já infectou mais de 53 milhões de pessoas pelo mundo afora com cerca de 1,2 milhão de mortes.
Enquanto cientistas tentam incessantemente descobrir uma vacina, governos adotam medidas para controlar as curvas da epidemia. Dentre as medidas mais seguras e usuais, tem-se o uso de máscaras, o distanciamento social e o enrijecimento de protocolos para viajantes.
Amyr Klynk — primeiro viajante a realizar a travessia do Atlântico Sul a remo — em seu livro, Mar Sem Fim escreve: “Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés”. Mas, em meio à maior crise sanitária do século XXI, os mochileiros têm aberto mão de viajar para os lugares que ainda não conhecem.
No segundo país mais afetado pelo novo coronavírus — atrás apenas dos Estados Unidos —, mochilar tem se tornado um ato cada vez mais impensável. Dormir em quartos compartilhados, pegar carona ou até simplesmente conhecer novas pessoas, comportamentos outrora típicos dos mochileiros, atualmente representam um risco para a saúde pública. Além disso, países e regiões, como, por exemplo, os Estados Unidos e a União Europeia, têm proibido a entrada de brasileiros.
Neste “novo normal” que se apresenta, mochilões foram interrompidos, planos foram adiados e sonhos foram postergados em prol do bem mais precioso: a vida.
Quando soou o alerta da OMS, inúmeros mochileiros estavam espalhados pelo Brasil e mundo afora. Àquela altura, as manchetes dos principais jornais ainda não davam a dimensão de quanto tempo duraria a pandemia.
Em Londres, na Inglaterra, o mochileiro João Abal mantinha um olho na Europa, então epicentro do novo coronavírus, e outro no Brasil. Nômade digital, o jovem viajante, aos 23 anos, já conheceu quatro dos seis continentes. Para 2020, havia planejado mais um ano inteiro de viagens internacionais. Mas, por conta da preocupação com os familiares, decidiu retornar para a terra natal.
“Eu estava com medo de perder meus pais. Se acontecesse alguma coisa, eu não estarei presente. Estaria em Londres. E tudo fechado, bloqueado. A primeira coisa que realizei foi vir para o Rio e ficar aqui”, explica João.
De volta ao aconchego da casa dos pais, João carregava, além da bagagem, uma questionamento. Poderia estar trazendo consigo o novo coronavírus? O inimigo, por vezes, é silencioso ou pode demorar a se apresentar. E, diferentemente de outros países, o Brasil não estava testando os viajantes no desembarque.
João não estava com a COVID19. Mas a quarentena auto imposta não foi a única dificuldade no retorno. Com o iminente bloqueio dos voos vindos do Velho Continente, em Março, o mochileiro veio no último avião de Londres para o Brasil. Muito graças a um amigo que produz conteúdo sobre milhas aéreas e resgatou uma passagem para o viajante carioca. À reboque, a dupla ainda se sensibilizou com a situação dos viajantes no mundo e, juntos, ofereceram para que alguns deles pudessem voltar.
“Se não fosse meu networking, ainda estaria em Londres, preso. A partir disso, a gente fez uma ação para ajudar todos os brasileiros que estavam presos no mundo. A gente recebeu várias indicações: ‘olha tem um amigo meu preso na Tailândia’, aí eu (respondia): ‘vou buscar ele lá’. Eu, com a minha experiência e meu amigo, com as milhas dele, a gente ia organizando tudo. Fizemos meio que um plantão para salvar esses brasileiros. A gente trouxe pessoas da Bélgica, da Tailândia, de Dubai, de Londres, da Itália, de vários lugares do mundo… Conseguimos recuperar brasileiros no último, último voo”, contou orgulhosamente.
“Tinha acabado de saber da pandemia. Daí eu tinha acabado de ser assaltada. De repente, eu não tinha mais voluntariado”
Segundo o Itamaraty, o órgão auxiliou mais de 30 mil brasileiros que estavam no exterior a voltar para o Brasil. Entre eles, estava a mochileira Aline Rodrigues, que, até Abril, fazia seu segundo mochilão pela América do Sul. A paulista, de 32 anos, viveu um verdadeiro perrengue enquanto esteve no Equador. Em uma cidade no interior do país vizinho e com pouco acesso à internet, a autora do blog “Uma Sul Americana” ficou sabendo da pandemia de uma hora para outra, foi assaltada na chegada à capital Quito, perdeu o voluntariado que tinha conseguido, teve um desentendimento na casa do embaixador brasileiro no Equador e ainda acabou sendo repatriada pelo governo brasileiro.
“Eu simplesmente não sabia o que eu ia fazer, era muita informação, tinha acabado de saber da pandemia. Daí eu tinha acabado de ser assaltada. De repente, eu não tinha mais voluntariado. Era muita coisa. Eu fiquei sem documento também, no assalto levaram meu documento. Nós (Aline e uma amiga) chegamos no lugar que estava escrito ‘Embaixada do Brasil’. Quando a gente tocou a campainha, descobriu que não era a Embaixada, era a casa de embaixador. A gente começou a pedir informações, ‘o quê que a gente faz?’, ‘para a gente tem que ir?’ E era um equatoriano que estava atendendo, um senhor equatoriano. Ele falava que o embaixador não podia falar com a gente. A gente começa a fazer um barraco na porta, tocando a campainha, pedindo para falar com embaixador”, resume a mochileira, que contou a história completa na primeira edição do Perrengue, disponível nos principais agregadores de podcast.
Passada a confusão, a Embaixada emitiu um documento que permitia a mochileira apenas retornar ao Brasil. Caso contrário, teria que pagar US$ 200 dólares por um novo passaporte. Aline, sua amiga e mais cerca de 200 brasileiros, em Maio, foram repatriados no primeiro voo fretado da história do Itamaraty.
“Estou me sentindo preso, com fronteiras fechadas. Meu objetivo sempre é viajar e não posso mais. Vou ficar restrito a muitas coisas. Tenho família no Brasil e Inglaterra, nem tão cedo poderei vê-los. Nem o crescimento dos meus netos poderei acompanhar“, conta o Vovô Viajante.
Aos 72 anos (e mochileiro desde os 68), Hernani Canhoto ou Vovô Viajante — como se intitula nas redes sociais —, faz parte do grupo de risco para a COVID19. Em todo globo, o novo coronavírus tem afetado sobretudo os idosos (faixa etária a partir dos 65 anos) .
Mas, nem mesmo o Vovô viveu a última crise que teve semelhante proporção. Faz mais de um século desde que a gripe espanhola (1918-1919) afligiu o mundo. Por isso, os primeiros meses da pandemia foram repletos de incertezas.
Pelo país, estabelecimentos comerciais — a não ser os chamados essenciais — e pontos turísticos eram proibidos por decreto. Policiais criavam barreiras para impedir que as pessoas transitassem entre as cidades. De repente, uma palavra estrangeira, “lockdown”, passou de pouco conhecida à parte do nosso vocabulário.
“Teve um ponto positivo que foi ressignificar as coisas das quais tanto fugia viajando e foi ficando presa, em mim e em casa”
No auge da quarentena no Brasil — entre os meses de Abril e Junho —, os mochileiros, tão acostumados a ver, ouvir, experimentar e viver coisas novas, passaram a precisar de algum veneno anti-monotonia para suportar estes longos períodos enclausurados.
Assim como Aline, a mochileira e advogada Thais Greger, 46, enxergou as flores no asfalta crescendo sob os seus pés. Enquanto não podia viajar para novos lugares, a viajante optou por mergulhar profundamente em si mesma.
“Me sinto numa montanha russa de emoções. A luta é diária para não perder a esperança em um amanhã melhor e com seres mais humanos. Mas, teve um ponto positivo que foi ressignificar as coisas das quais tanto fugia viajando e foi ficando presa, em mim e em casa. Viajei pelas minhas emoções e pensamentos, medos, fantasias, sonhos e ao final me sinto muito mais segura, completa e grata pelos amigos de jornada e pelas conquistas da vida. As festas e as viagens, sozinha e com os amigos, fazem muita falta. Mas, me alimento do pensamento de que logo mais estaremos celebrando a vida pois a última que morre é a esperança. Não deixe a sua morrer, cultive-a com boas lembranças e muita energia de amor”, respondeu Thais à pergunta “como a pandemia está te afetando?” feita pela Com A Perna No Mundo através das redes sociais.
“Acredito que não seja o momento de viajar, mas acredito que há opções de para alguém que esteja de férias e queira aproveitar ou alguém que tenha um tempo e necessite mais contato com a natureza. O que, para mim, está pegando muito é estar há quatro meses socada em São Paulo, que é uma cidade que eu não me identifico, sem contato com a natureza. Então, eu acredito que existam algumas opções que não sejam exatamente de viagens que podemos recorrer nesse momento”, conta Aline Rodrigues que chegou a fazer um voluntariado em um centro holístico na Serra da Mantiqueira-MG e atualmente se encontra em um ONG que cuida de cães em Ubatuba-SP.
“Eu esperei um pouco pra poder voltar a viajar. Mês passado (Setembro) fui acampar em Angra e, para minha surpresa, estava super cheio. Barracas grudadas umas nas outras, pessoas se aglomerando… Não foi uma experiência boa, agora estou pensando realmente em adiar as viagens e esperar mais um pouco, pois foi muito arriscado. A não ser que seja pra um lugar bem isolado”, escreveu a mochileira e estudante de Administração Pública Maria Eduarda Amora, 21.
Seja por pressão do Governo Federal, seja por estabilização da média móvel de casos, a partir de Julho pouco a pouco as cidades brasileiras começaram a reabrir. Pelo país afora, praias, bares, restaurantes e alguns pontos turísticos foram liberados, ainda que com restrições. Em meio ao “novo normal’ — com as autoridades recomendando ao máximo o distanciamento entre as pessoas —, alguns viajantes, então, aproveitaram para voltar a sair de casa.
“Não parei de viajar em nenhum momento… Só não fui mais de avião ou de ônibus. Apenas de carro. Sempre há alternativas, por exemplo, ilhas desertas”, escreveu o mochileiro e investidor Junior Trade.
“Eu escolhi sair em um momento que estava flexibilizando principalmente (as restrições) em praias, pontos turísticos, que eram o meu foco. Desde que a gente parou no literal de Maresia, em São Paulo, e veio, a gente não teve nenhum problema em relação a restrições. Estava tudo liberado”, conta o mochileiro e publicitário Michel Leck.
Aos 35 anos, Michel Leck encarou o desafio de começar uma viagem em plena pandemia. De carro com um amigo, o mochileiro curitibano saiu da capital paranaense rumo ao litoral. Pelo caminho, o viajante notou que o comércio já estava funcionando normalmente e não sentiu nenhuma hostilidade por parte dos moradores. Entretanto, admite mudanças em relação às viagens que estava acostumado.
“Mochilão mesmo, é o mochilão nas costas. Agora a gente está de carro, fazendo um rolê bem roots, dormindo em qualquer lugar que dê para armar uma barraca, que seja seguro e que seja autorizado. Porque, estou dormindo dentro do carro e o meu amigo dorme na barraca. A gente não está se hospedando em hotel, camping… Mas a gente dá nosso rolê e a gente percebe que está tendo menos turistas nas cidades. Mas, de Agosto para cá, a gente começou a perceber um pouco mais. Foi quando as praias começaram a ficar liberadas e então você já vê turistas descendo das cidades para o litoral. Em bem menos quantidade, mas você já vê um começo”, explicou minunciosamente.
“É máscara, álcool em gel e já era. Não tem mais nada não”
A pandemia trouxe novas preocupações para todos. Entre as armas contra a COVID19, recomendadas pela OMS, estão a proteção de olhos, nariz e boca, higienização das mãos e o distanciamento social. Contudo, este último quesito, o brasileiro já vinha tendo dificuldades para cumprir desde a fase de quarentena.
“É máscara, álcool em gel e já era. Não tem mais nada não. Nada de diferente ou de especial que a gente teve que adaptar. Distanciamento é impossível. Até porque, no dia-a-dia, a gente está vendendo artesanato, conhecendo uma galera. E você percebe que não está tendo distanciamento. Se o pessoal gosta de você já vem, cumprimenta, dá um aperto de mão, um abraço. As meninas vem e dá um beijo no rosto, a gente deixa (risos), completou.
“A gente que vive viajando e tem uma preocupação de não ficar levando a doença”
Enquanto Michel começou a viagem por opção, outros não tiveram escolha. É o caso do casal Fred Michel e Letícia Serrão junto com sua filha Beatriz, por exemplo. Nômades, a família, que vive viajando, não tinha para onde voltar durante a pandemia. A solução, então, foi seguir. Embora alguns de seus planos também tenham sido frustrados. Antes da OMS declarar, em Março, estado de emergência global, os viajantes, do blog Três Mochilas Pelo Mundo, estavam com passagem comprada para Lisboa, em Portugal, e queriam conhecer o Leste Europeu. Mas tiveram que adiar esse desejo.
A própria Letícia admite que se não tivesse para onde voltar, provavelmente teria ido para casa. De acordo com a mochileira, continuar a viajar durante a pandemia requer adaptações e ter que manter o distanciamento afeta sobretudo o lado social do mochilão.
“A gente teve que realmente se recolher e acabamos mudando completamente o estilo da nossa viagem. Vivíamos muito mais em movimento. No primeiro ano, a gente passava uma semana, 10 dias no máximo em cada lugar. Às vezes 20, mas era raro”, disse Letícia.
“Essa parte de interação com as pessoas, a gente acabou reduzindo. Não tem como. Hoje a gente está em um lugar tranquilo, em Trancoso-BA, que a praia é grande. Então, a gente consegue ir à praia, se manter isolado. Mas a gente já passou por lugares mais cheios e acabou que a gente realmente ficou em casa. Especialmente porque a gente que vive viajando e tem uma preocupação de não ficar levando a doença. Então, a gente realmente cumpre as regras de isolamento social”, completou a mochileira.
“Quando a gente começou já estava vindo um pessoal. Estava vindo bem pouquinho, na realidade. Mas, mesmo assim a gente ficou felizão porque em plena pandemia estava vindo gente”, disse Aline Penaforte, 21, dona de um hostel na cidade de Tutóia, no Maranhão.
Um dos tipos de acomodações preferidos entre os mochileiros, os hostels oferecem preços baixos e a oportunidade de compartilhar. Não só quartos, cozinhas e outras áreas comuns, mas também histórias, ensinamentos, dicas, amizades.
O que ninguém quer compartilhar é a COVID19. A pandemia fez com que muitos mochileiros colocassem em xeque o futuro dos hostels. Mesmo com a reabertura da economia e não havendo determinações que proibissem o funcionamento destes locais, cresceram no mundo as buscas por viagens de carro, motorhomes e o aluguel de casas no Airbnb, por exemplo. A plataforma afirma que as buscas por espaços inteiros em até 300 km das grandes cidades cresceram 150% após a flexibilização da quarentena.
Por isso, não tinha como esconder a alegria no Delta do Parnaíba, ao ver os viajantes chegando. No paraíso perdido de Tutóia, no Maranhão, os sócios Aline Penaforte e Adilson Correia já planejavam abrir o recém-inaugurado Mini Hostel. No entanto, a pandemia chegou para atrasar os planos. Somente em Agosto, um mês depois da flexibilização na cidade maranhense, que a dupla enfim conseguiu realizar esse sonho.
“O início foi complicado, mas está se ajeitando. Está todo mundo vindo agora e percebendo que vale a pena vir. A gente está se esforçando um ‘bocadão’ para o pessoal perceber que aqui tem como dar certo sim. Se eles vierem para cá, não precisa ter tanto medo”, explica Aline.
De fato, os primeiros meses da pandemia foram particularmente difíceis para quem hospeda. Em todo globo, a Organização Mundial do Turismo das Nações Unidas (OMT) estima que o setor sofreu um prejuízo de US$ 320 bilhões de dólares no primeiro semestre de 2020. Com as cidades isoladas e sem o movimento de viajantes, os donos de hostels precisaram usar da criatividade para manter a saúde das pessoas e a financeira.
“A gente passou a se voltar muito mais para as empresas, atender o mercado da construção civil, que não parou. E passou a priorizar hospedagens mais longas”
Em Belo Horizonte — uma das primeiras capitais a decretar o isolamento — o Br Hostel seguiu a cartilha de “aumentar um pouco o ganho, antecipação de verba e corte de gastos”. Renegociaram contratos, parcelaram pagamentos, adiantaram verbas de cartão. Criaram uma linha de produtos com camisas, canecas e até máscaras personalizadas. E quando, a cidade enfim deixou a quarentena, apostaram também em jantares temáticos com comida japonesa às sextas-feiras.
“Basicamente foi isso, reposicionar uma marca logo depois da abertura. A gente estava muito voltados ao turismo, as pessoas que a gente recebia… A gente passou a se voltar muito mais para as empresas, atender o mercado da construção civil, que não parou. E passou a priorizar hospedagens mais longas. Então, foram essas medidas”, explicou um dos sócio proprietários do Br Hostel, Flavio Sifuentes, 35.
Para garantir a segurança dos que chegam, algumas medidas foram tomadas. Álcool em gel em pontos espalhados pelo hostel, tapete para limpar os calçados e a recomendação do uso de máscara nas áreas comuns. Ao invés do tradicional buffet de café da manhã, kits individuais embrulhados em plástico PVC. Ao invés de concentrar os hóspedes no menor número de quartos, uma maior distribuição pelas acomodações do hostel.
“Não tem nenhuma norma do governo aqui de Minas, pelo menos de Belo Horizonte, que peça para redução. Mas, como a própria busca está sendo menor, para gente pôr na capacidade máxima em um quarto para quatro hóspedes, é quando é do mesmo grupo”, continuou Flavio, que reconhece que o público parece mais tranquilo em relação ao novo coronavírus, “A maior parte não está muito preocupada não, pelo menos não com exagero. É uma minoria que vem com essa preocupação excessiva. Acho até que, por ser em hostel, eu acho que quem busca essa hospedagens assim já tem uma preocupação menor por saber que em algum momento você compartilha”, explica.
Até mesmo a Worldpackers, principal startup a conectar campings, ecovilas e hostels que oferecem work exchange (troca de hospedagem por serviços) a mochileiros foi bastante afetada no início da pandemia. Com mais de dois milhões de usuários em mais 100 de países, a empresa, criada em 2014 e vencedora em 2020 do 1º Prêmio de Inovação dado pelo Ministério do Turismo, também precisou buscar uma reinvenção em meio à crise no setor.
“A gente conseguiu recuperar bem rápido, principalmente com algumas inovações que a gente fez de produto como a Academy, um canal no Tik-Tok. Assim, a gente deixou a cultura da empresa mais forte ainda”, conta o CEO da Worldpackers, Riq Lima, 33.
“Como eu imagino o futuro das viagens? Eu acho que ainda vai ficar um tempo nessa de viagens (de distâncias) mais curtas e tempos maiores. E, com o tempo, as viagens a negócios vão reduzir muito e as pessoas vão voltar a viajar e realizar o sonho delas. Com segurança, mas viajando para lugares que realmente fazem sentido, com experiências que realmente fazem sentido”, diz Riq Lima.
Até quando a pandemia vai durar? Quando teremos uma vacina? Por quanto tempo teremos que conviver com o novo coronavírus? Quantas ondas vão vir? O mundo vai voltar a ser como era antes? Não é primeira parte da canção “Alcohol”, lançada em 1993 por Jorge Ben Jor, mas a pandemia ainda nos deixa com mais perguntas que respostas.
Enquanto os cientistas ainda não autorizam uma vacina para prevenir a COVID19, um grande debate se estende sobre se é possível ou não viajar até lá. Mas, o CEO da Worldpacker, Riq Lima, acredita que os sonhos vão voltar a ser realizados no futuro.
A esperança de um futuro melhor, aliás, parece ser consenso na comunidade mochileira. O muito otimista João Abal, como o próprio define, é outro que faz coro por um amanhecer com muitas viagens no futuro.
“Eu acho que está preso o monstro, mas vai abrir. E que bom que abra porque vai ter mais conteúdo, mais pessoas falando sobre viagem, mais pessoas viajando e assim acontecendo… O presente é agora e quando acabar essa parada, quando abrir depois da vacina, eu acho que vai ter muito mais viagem, vai ter mais promoções, acho que vai ser mais acessível”, afirma João.
Mas, como a Letícia, do Três Mochilas Pelo Mundo bem colocou, “a gente só não sabe quando que é isso futuro, né?”.
Momentaneamente, a tendência é que situação continue como está. O programa “Revisitando o Brasil”, do Ministério do Turismo (MTur), aposta nas viagens internais, principalmente regionais e de curta distância entre destinos nesta fase de flexibilização do isolamento social. Caso não haja novos surtos epidêmicos que culminem em um novo isolamento, uns devem seguir viajando normalmente, e, neste caso, é importante ouvir as indicações dos próprios mochileiros sobre locais onde possam se manter em segurança.
Para quem quer se expor ainda menos, a mochileira Aline Rodrigues compartilha algumas dicas. No canal Uma Sul Americana, a nômade digital lista voluntariados onde é possível se manter longe das aglomerações. Entre as sugestões, estão fazendas, granjas, ONGs, escolas, comunidades, centros holísticos e ecovilas, que podem ser encontrados através da plataforma Worldpackers.
Assim deve continuar, pelo menos, até a Era Nova, cantada por Gil, nascer e os viajantes puderem livremente cantar “vai me ver noutra cidade, no norte da saudade, que eu vou ver meu bem”.
Nascido no Rio de Janeiro, mas com o sonho de viajar pelo Brasil e pelo mundo. Ex-aluno do CEFET/RJ e formando em Jornalismo pela UFRRJ. Comecei a Com A Perna No Mundo pelo desejo de viajar e de contar as histórias dos lugares e dos viajantes pelo caminho.